quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

O Dia do Curinga

E os CURINGAS do nosso tempo, onde estão?

"Você já pensou que num baralho existem muitas cartas de copas e de ouros, outras tantas de espadas e de paus, mas que existe apenas UM CURINGA?"

         Este foi um daqueles livros onde eu não tinha a menor esperança de gostar, mas ele acabou sendo escolhido como o livro do mês de janeiro no nosso Clube do Livro(ainda sem nome...), e ai não tive como fugir dele :P !!
Veja o livro no Skoob
O livro é de Jostein Gaarder, que é o mesmo autor de o Mundo de Sofia, nele conhecemos a história de Hanz-Thomas e seu pai, que partem em uma viagem por alguns países da Europa em busca da mãe de Hanz-Thomas que os abandonou há oito anos para “tentar se encontrar”, até ai nada demais, parece uma historiazinha normal, sem graça(para mim pelo menos), mas o desenrolar do livro é muito interessante.
Das viagens filosóficas do pai de Hanz-Thomas, à ilha mágica, passando pela bebida púrpura, pela padaria, pelos peixinhos dourados, pelas cartas que ganharam vida, pela lupa e pelo livro dentro do pão a história é incrível.

"Um filósofo é uma espécie de curinga: alguém que sempre acreditou ver coisas estranhas, que os olhos dos outros não viam."

E destaco duas coisas que me marcaram mais no livro.
A primeira é o calendário onde o ano é baseado nas cartas do baralho.  Onde cada semana corresponde a uma carta, sendo 52(cartas) x 7(dias) = 364 dias do ano... só que como todos sabemos o ano tem no mínimo 365, e é exatamente este último dia que é o dia do Curinga.
A segunda coisa é a fato do curinga em si, do fato dele representar um tipo de pessoa que não sei deixa levar pelas outras, que vê o mundo de forma otimizada, que não se acomoda com a mesmice e está sempre buscando mudar e melhorar, que vive se questionando sobre os por quês da vida. Um tipo de pessoa que apesar de extremamente importante para o desenvolvimento do mundo está ficando cada vez mais rara.

"Sem o soro da mentira, pequeno bobo da corte consegue pensar com clareza."

As paradas para o cigarro que os pai fazia, sempre rendiam ótimas reflexões filosófica sobre os mais diversos temas.
É interessante o fato dele ser um livro bem filosófico, mas não ser um daqueles livros chatos onde logo no começo o leitor já tem vontade de desistir de tanta reflexão, o fato dele envolver uma história bem fantástica por trás das reflexões facilita e muito a leitura.
Foi realmente uma leitura diferente, histórias dentro de histórias, muito legal!
Tem realmente muita coisa para se falar sobre este livro, mas não vou me prolongar aqui para não estragar ainda mais as surpresas do livro para aqueles que embarcarem nesta leitura. Recomendo a todos!


"HÁ SEMPRE UM CURINGA QUE NÃO SE DEIXA ILUDIR"

 Dados do Livro
Título: O Dia do Curinga
Escritor (a): Jostein Gaarder
Editora: Companhia das Letras
Páginas: 344
Ano: 2007
Onde comprar: Livro no Buscapé

Cleber Filho
E-mail: fctsf@hotmail.com

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Palavras Envenenadas

“A morte deve ser doce”

“Agora já não posso ir a parte alguma. Acreditam que eu esteja morta. Minha mãe leva flores à montanha e as joga ao vento no dia do meu aniversário, e meus irmãos erguem um balão com meu nome.” Bárbara Molina

Livro no Skoob
A sinopse me chamou atenção de cara: uma garota (Bárbara Molina) desaparecida a quatro anos sem um pedido de resgate! Adoro histórias policiais! Mas admito que o que me convenceu realmente a comprar e ler o livro foi o título da primeira parte: “A garota que assistia Friends”. Se tinha referência a minha série de TV preferida, então ele tinha uma obrigação moral de ser uma boa leitura (kkkk).
A história se passa em apenas um dia. Quatro anos após o desaparecimento de Bárbara, o detetive responsável pelo caso está em seu último dia de serviço, antes de se aposentar, e ao passar todos os seus casos para o seu substituto eles narra a teia de acontecimentos confusos acerca do desaparecimento da garota.
Paralelo a esse acontecimento, vemos no mesmo dia, como está a situação da família Molina: a mãe depressiva, viciada em medicamentos; os irmãos menores criados a própria sorte; e o pai, o único que consegue manter a vida funcionando na família. E ainda temos a melhor amiga de Bárbara que contribui de forma importantíssima para a resolução do caso!
Pode parecer uma história batida, mas o que mais me chamou atenção foi a forma da narrativa. Temos os capítulos narrados pela própria Bárbara em seu cativeiro, nos quais ela lamenta a situação em que se encontra e nos ajuda a entender um pouco mais da história, além de nos fornecer importantes dados para que possamos resolver seu desaparecimento. Temos também capítulos nos quais o narrador nos faz conhecer outros personagens e suas angústias sobre o desaparecimento da garota. E neste mundo temos análises sobre os limites na educação dos filhos: até onde é possível dizer SIM e não acabar “estragando” os filhos? Até onde podemos ser tão permissivos? Como não magoar ao dizer NÃO?
Também me chamou muita atenção a abordagem do tema “abuso infantil”, um tema que não é tão comum em livros (pelo menos não nos que tenho lido). Bárbara é descrita como muito bonita, desde criança e por esse motivo surgem várias suspeitas de abuso por parte de pessoas próximas a família e à garota.
Durante os capítulos de Bárbara, vemos a tristeza e até mesmo a culpa que ela sente em relação a situação que está vivendo e também a maneira como “ele” (seu sequestrador, que ela se refere desta maneira) inverte a situação e faz com que ela sempre se sinta culpada pelo seu próprio desaparecimento. Deste modo, a garota que assistia Friends, descreve como os seis amigos foram sua única companhia durante seu cativeiro “Depois de comer, assistia a Friends e, naquele momento, me sentia como se estivesse em casa, dividindo o apartamento de Joey e Chandler, cuidando de seus animais, tolerando a gravidez de trigêmeos da Phoebe ou roendo minhas unhas toda vez que Ross e Rachel terminavam, quando Joey ficava desempregado ou quando Mônica queria ganhar uma aposta.”
O livro ainda nos leva a um passeio por Barcelona, cidade onde se passa a história. É uma narrativa dinâmica, gostosa e divertida, apesar de tensa em diversos momentos.
Vale totalmente a pena ler!!! Super recomendo!!


Dados do Livro
Título: Palavras Envenenadas
Escritor (a): Maite Carranza
Editora: Novo Conceito
Páginas: 251
Ano: 2011
Onde comprar: Livro no Buscapé

Beth Costa
E-mail: beth.biologa@gmail.com

domingo, 9 de fevereiro de 2014

Árvore e Folha

"A Porta Trancada é uma Eterna Tentação"

Veja o livro no Skoob
Acho que assim como a maioria dos leitores que conhecem Tolkin o conheceram através do livro O Senhor dos Anéis, e eu não sou uma exceção a esta regra, e assim como a maioria eu vi primeiro o filme A Sociedade do Anel para depois ir buscar os livros. Li a trilogia e gostei muito. Depois comprei em uma promoção o Hobbit e Silmarilion, e também gostei de ambos. Um tempo depois em outra promoção do querido Submarino comprei os Filhos de Hurín, e mergulhei ainda mais neste incrível universo de J.R. Tolkien.

O cara é fantástico, a complexidade da sua obra é algo diferenciado, e já faz tempo que tenho Os Contos Inacabados como desejado no meu Skoob(tá faltando só a oportunidade :P). Mas eis que navegando pelo face descobri o livro Árvore e Folha, uma outra obra dele que foi publicada em 2013 e é essencial para se entender a lógica do autor, e o modo como ele escreveu suas fantasias. O livro é dividido em duas partes, a primeira é Sobre Contos de Fadas que foi escrita na época em que O Senhor dos Anéis e O Hobbit estavam começando a ganhar forma.

“O Reino Encantado contém muitas coisas além de elfos e fadas, e além de anões, bruxas, trols, gigantes ou dragões: contém os oceanos, o sol, a lua, o firmamento e a terra, e todas as coisas que há nela...”

Nesta primeira parte Tolkien nos explica um pouco sobre o que são os contos de fadas, e nos mostra algumas obras que são por muitos consideradas contos de fadas e que na visão dele não são como Alice, Liliput e O Coração do Macaco. É interessante ver como um ensaio que foi escrito em 1930 ainda cita contos que lemos(ou assistimos) até hoje!

“Por hora só direi isto: um “conto de fadas” é aquele que toca ou usa o Reino Encantado, qualquer que seja seu propósito principal, sátira, aventura, moralidade, fantasia.


O livro crítica o fato dos contos de fadas serem sempre colocados como coisas de crianças, e vemos que atualmente está acontecendo justamente o processo contrário, os famosos contos de fadas estão sendo adaptados com roupagens mais adultas.

A segunda parte é um pequeno conto chamado Folha de Migalha, nele Tolkien conta a história de um homem que vivia em função de pintar um quadro e mesmo sendo interrompido muitas vezes acabado deixando muita coisa de lado para focar em sua obra prima. Até que acontecem algumas reviravoltas que o afastam da sua obra.

Pesquisei e vi que esta é considerada a única narrativa que Tolkien escreveu que contém uma alegoria a sua própria vida. O livro é bem interessante, a primeira parte é muito didática, por diversas vezes podia jurar que estava lendo um artigo científico, mas isto não diminui a grandeza da obra. É interessantíssimo ver a opinião de Tolkien sobre um assunto tão comum para nós leitores. Apesar de interessante, recomendo apenas para os admiradores de Tolkien e similares, para os demais ele pode se mostrar um pouco cansativo!

"Perguntar qual é a origem das histórias é perguntar qual é a origem da linguagem e da mente."


Dados do Livro
Título: Árvore e Folha
Escritor (a): J.R.R. Tolkien
Editora: WMF Martins Fontes
Páginas: 114
Ano: 2013
Onde comprar: Livro no Buscapé

Cleber Filho
E-mail: fctsf@hotmail.com








sábado, 8 de fevereiro de 2014

Gênesis - Bernard Beckett


Sinopse

A Terra foi arrasada pela Peste, os sobreviventes reuniram-se em uma nova sociedade. Separados do mundo exterior por uma cerca em pleno oceano, vivem em isolamento – aviões que se aproximam são abatidos; refugiados, executados. Até que um soldado escolhe romper com as regras e resgata das águas uma menina. Seu nome é Adam Forde. Ele muda para sempre o curso da História.
Anaximandra, uma jovem de 14 anos, estudou a fundo esses dados históricos. Numa sala, ela está sentada diante de três Examinadores para uma prova de quatro horas. Adam Forde, seu herói, morto há bastante tempo, é o tema. Se aprovada, ela será admitida na Academia – a instituição de elite que governa aquela sociedade utópica. Anax, porém,  irá descobrir que nem tudo consta dos registros acadêmicos. Há fatos, imagens, arquivos a que nem todos têm acesso. Antes que a avaliação termine, virão à tona o obscuro segredo da Academia e a realidade assustadora daquele admirável mundo novo.

O QUE REALMENTE SIGNIFICA SER HUMANO?

Sério, com uma frase dessas na capa tem como o livro não ser instigante de se ler? Pirei completamente quando vi a capa/sinopse, mas nada se compara a piração de quando acabei a leitura. Como é complicado falar de um dos livros que considero estar no TOP 5 dos livros que já li, mas Gênesis não poderia ficar de fora dessas resenhas.

O livro passa por um futuro onde uma peste 'exterminou' boa parte do planeta e onde uma ilha sobreviveu ao se isolar do restante do planeta. Como defesa a ilha abate todo ser vivo que chega de fora, com a justificativa dele poder estar 'infectado'. No momento em que Adam um guarda deixa uma mulher entrar na ilha ele muda a historia da dos sobreviventes por completo. Sendo preso junto a um robô androide com cabeça de macaco (extremamente chato kkk) Adam se vê sem saída e com raiva até começar a interagir e ter diálogos com o robô macaco Art.

O grande tchan do livro é que nós conhecemos essa historia através de uma espécie de apresentação de monografia de Anaximandra que estudou os acontecimentos causados por Adam desde o momento que ele deixou a moça entrar na ilha até sua reclusa com Art. E Anaximandra é muito questionada pela banca e já mostra uma certa consciência diferente do que se era esperado, pois ela olha bastante o lado de Adam quando as demais pessoas acham que ele agiu de tal forma por estar 'louco'.

"- Eu sei que sou diferente. Para mim é o bastante.
- Você está infectado pela ideia - disse Art - Mas isso não precisa ser fatal. Enquanto nós conversamos aqui, acontece uma batalha. Dois pensamentos estão em luta mortal dentro da sua cabeça. A Ideia antiga é muito forte e está cravando suas garras sobre a humanidade... mas a nova Ideia também é poderosa, e você está começando a perceber o quanto é difícil se livrar dela."

Enfim Adam e Art tem conversas sensacionais sobre o significado de ser humano de verdade enquanto Art tenta convencer Adam que é tão humano quanto ele ou ainda melhor pois pode trocar peças e fazer backups de si mesmo, etc. Durante esses diálogos é impossível não parar pra tomar um fôlego e tentar processar tudo que está lendo, sinceramente esse livro é demais.

Pra mim um livro que deveria ser leitura obrigatória, um livro que quebra preconceitos (mesmo que você imagine que não os tem), um livro que faz você refletir e um livro muito gostoso de se ler. A narrativa dele é muito boa, em pouquíssimos trechos ele se deixa soar um pouco monótono, mas a história se encarrega de quase tudo. Juro que fiquei pensando como o autor conseguiu tirar algo tão interessante da cabeça e pôr no papel de uma forma tão simples... mas digo a vocês: leiam que vale muito a pena.

Não gosto de recomendar demais e gerar expectativas que não são correspondidas, (não é Dani?) mas não consigo não fazer isso com Gênesis... leiam! Recomendo em especial pra galera do meu clube do livro (com nome ainda a ser definido) que passou por esses questionamentos lendo O dia do curinga ultimamente, vocês devem gostar. Abraço a todos e até a próxima.

  • Título: Gênesis
  • Autor: Bernard Beckett
  • Editora: Intríseca
  • Ano: 2009
  • Páginas:174